Iniciamos a contagem para menos um dia do ano de 2024. Digitei no Google as primeiras palavras que vieram a minha mente: Corpos estranhos. Eis a definição que aparece de cara: " Os corpos estranhos são objetos ingeridos que podem ficar presos no trato digestivo, podendo até mesmo perfurá-lo . Os corpos estranhos podem ser engolidos de maneira acidental ou intencional. Os corpos estranhos podem vir ou não a causar sintomas, dependendo de onde eles ficaram presos." Tem tanta compreenção em uma frase tão direta, crua, nua e até invasiva. Revira por dentro e revela o nosso íntimo. Sempre no início de um novo ano somos impulsionados a continuar, a fazer parte de um corpo estranho que carregamos e moldamos por décadas e que de uma hora para outra nos causa a sensação de que algo ficou preso pelo meio do caminho, subindo e descendo, perfurando a cabeça, estômago, coração, alma e sanidade de todos. Engolimos cada pedacinho, conscientes ou não, desse acidente que teima em querer par
Faz tanto tempo que não escrevo. Será que as palavras esqueceram de mim? Em que momento elas foram saindo devagarinho de dentro do meu coração e dos meus pensamentos? Percebo que querem habitar outras partes do meu corpo. A inquietude delas fez a dor existir nos meus ossos. Dor nos pés cansados de caminhar com elas por horas e em busca de um litro de lágrima que ficou perdida em meio a chuva torrencial no corpo da Amazônia. A secura na boca empobreceu o vocabulário. Sem ditado, eu renunciei a complexidade dos textos eruditos. Meia palavra basta. Sem interesse para ouvir as conversas alheias, a crueza delas expôs todos os hipócritas de cabeça oca, vazia e sem brilho. As palavras sumiram na escuridão e ficaram quietas. Voltaram a dormir em mim sem papel, caneta e ilusão.