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Mostrando postagens de novembro, 2020

Minhas tardes quentes de inverno

  Meio irritada com a lentidão do trânsito pedi ao motorista para manobrar até o supermercado mais próximo.  Comida sempre fez com que meu cérebro funcionasse melhor. As prateleiras estavam todas organizadas. Cada seção bem distribuída.  A de legumes parecia um convite a contemplação com sua aquarela molhada.  Parecia cenário de chuva fina. Os fantasmas das fotografias nunca mentem. O cheiro e a satisfação de tudo, linha de produção de propaganda, era a maquiagem da perfeição por ali. Nada estava em harmonia com os rostos infelizes dos funcionários e das pessoas comprando. Definitivamente, eles pareciam que estavam caminhando rumo ao nada com suas feições de desprazer em meio às cores. De nada adiantava os gozos escondidos em seus quartos infelizes. Mondrian deveria estar se retorcendo com Van Gogh.  Para que tanta cor e tamanha vida se nada era real? Bateu um querer urgente em sair correndo para algum lugar. Dodecafonismo sentimental! Loucura que me perseguia por dentro, d

Brisa suave

Quando você não acredita mais em nada na vida. Quando nada mais te toca, as coisas mais bonitas acontecem. Se aproximam para reorganizar seus dias sem sentido e pintar suas mãos de vermelho vivo.  As vidas se cruzam quando mais precisamos uns dos outros. Quando estamos afundados em conflitos. Dizem que tudo está escrito e que não podemos mudar nada daquilo que tem que tocar a nossa alma, para poder transformar o nosso presente e alicerçar o nosso futuro Mudança. Ô palavra linda! Mudança até naquilo que dizem que já foi programado. Quando alguém trata de forma pura, pela primeira vez, como se fosse digno de confiança, as defesas e os muros da desilusão são derrubados sem fazer barulho. Digno de amor profundo. São ajudas que fazem seguir adiante. Dentro daquilo que jamais conseguiríamos sozinho. E nessa grandiosidade que é a vida, a generosidade de algumas almas transformam a terra seca, novamente, em um lugar fértil e cheio de vida. Transformam a nossa vida num livro inteiro, com lindas

Tom de pele

Tom de pele  Toda entregue Porta aberta Chave jogada Sombra da noite Lua cheia e escancarada Sol pálido Riso reluzente Boca molhada Peças de xadrez Mesa exposta Jogada de mestre Estradas esburacadas Rodo, tudo, giro, grito Noite longa. - - - Fome de boca Corpo de louça Quebrado em pedaços Boca carnuda Cabelos molhados Língua atrevida Coito forte, firme, urgente e apressado - - - Canção cansada Mãos abençoadas Repertório repetido Enredo encerrado. Quarto confidente e amigo Inerte e jogados Sono de dores e corpo drogado.

A Claridade de Clarice

  Muito bem... Sendo assim, eu passo e saio. S endo assim, eu não permito mais. Pode deixar de existir. Sendo assim esqueça as voltas que o vento fez. Sendo assim, mais uma tarde de verão começa a desenhar outra estação. Gratidão não faz parte do cardápio de ingratos. Ao ler as poesias de Clarice reli a minha própria poesia contida em nossas linhas de mulher. É uma poesia atrevida, nua, crua, alva e poderosa. O cheiro é forte e de corpo delgado. O gosto está para todos, mas nem todos gostam de saboreá-la. Despeço-me de tudo. Arranco os andrajos de outrora e começo a ter novos insights de pegadas nas ruas. Passos apressados e firmes que ecoam em meu coração. Clarice me deu um trago da sua paixão e a uma avidez nas palavras. E Bêbada de tantas leituras acordo inerte e preguiçosa de tanta cobrança. Não tenho mais desculpas para adiar o meu peso na caneta. Clarice apressou-me mais uma vez e num gesto de amor profundo deu a mão e me retirou do fundo do poço.

Obra de Finado

  A tinta da melancolia, com que foi escrita os últimos seis anos, está sendo derrotada pela estimada força que varre algo tão triste e constante para debaixo do rio de emoções. São coisas que vem e vão, nada demais. Interprete em vida ou é abocanhado no final. Renuncia à Glória e abdicar do aplauso é natural quando se decidi viver cada uma emoção.  Algo de fazer com as mãos e não com os pés. Elas exercitam mais o cérebro. Sabem aquecer o coração e ensinam a educar o corpo na variação dos encontros e desencontros da vida. Vive por aqui é a nossa história volúvel no mundo que às vezes nada conta e noutras tem vocação para tudo o que o próprio historiador presuma existir.  O ar que cura  e refresca, sufoca e mata. Ainda falta-nos um tanto mais de fôlego nas maratonas das cruezas da vida e fortalecer o pulmão para outras aventuras. O Tempo, ministro da Morte, como dizia o Bruxo do Cosme Velho, sempre estará à espreita contando cada segundo das nossas ações e de verme no mundo.  Se

O rouxinol

  Ele veio falar nessa manhã de sol tímido. Por entre as árvores avisava o quanto eu estava cega para os olhos do espelho. Os anos de silêncio e solidão ficaram quietos no canto do quarto observando a cena. Tudo havia sido expulso no final do mês das chuvas e   teimava em querer fazer morada em qualquer lugar que pousasse meu corpo. A chuva tentou insistir em querer brigar com o sol por minha preguiça. E em meio a essa confusão aproveitei para sentir o ardor em minha pele úmida e ordenou aos meus olhos e demais sentidos para se aquietarem. O Rouxinol avisou-me que não tinha pressa. Só queria cantar. Foi quando descamou. As minhas rugas ressecadas e tensas por dentro da minha pele e do meu coração começaram a ser irrigadas lentamente. O pulmão alegre com tudo aquilo deu um suspiro de alívio quando o rouxinol voltou a cantar na janela. Existe um companheiro silencioso e que se faz presente em nossos dias para poder ajustarmos detalhes moldados por dentro do espelho e com picare