Sentei na mesa do bar e olhei em volta.
A história do centro da cidade se perdeu em decrepitude, por ali uma juventude sem sentido com assuntos banais e sem quetionamentos sobre os mistérios da vida.
Os sonhos deram lugar a realidade das coisas futéis e supérfulas. Outras verdades, novas menitas. Razão demais não é verdadeira, somente confunde e engana os instintos.
Provavelmente somos todos vítimas de nós mesmos, e talvez por isso, tentamos apagar as pegadas do conhecimento e quem sabe reinventar algo já adormecido no fundo da memória e encoberto por cobertores quentes da ilusão.
ali os pensamos eram bons demais para tamanho ofício e profissão da noite.
Pedi uma bebida quente e olhei nos olhos esqucidos da multidão que marchava rumo a mesa do bar.
Um travesti sentou ao meu lado e ofereceu um cigarro velho de palha.
Luiza, era o nome dela.
O cheiro do tabaco me fez lembrar a lama que afunda o país.
Pegue o espelho velho e quebrado na minha bolda e olhei nos meus olhos. Eu era a própria vida travestida, que teimava em vencer a batalha, que já nasceu derrotada.
Perguntei a Luiza: "A quem ela iria oferecer meu cadáver?"
Luiza riu e disse:
"Aquelas carnes sentadas e rindo alto são um chumaço de algodão humano embebidos em sangue e álcool. Era toda uma boemia que se rendia ao inefasto desprezo social, desfilando em cada mesa, com odor dos derrotados."
Luiza acrescentou que desatar os nós das tradições familiares, custa muito mais a mente, do que a alma humana e todas as suas amarras.
Senti um gosto de vômito na boca ao olhar a apatia no rosto de todos. De tal modo, que a liberdade dançava aos olhos de todos e apontava o dedo na cara de quem nunca sairia da escuridão.
insisti, e mais uma vez perguntei a ela, quais os caminhos que nos levam a este fim?
Ela riu e de um gole só na cerveja respondeu:
"Raiva, amargura, vingança, humilhação, perda, medo, ignorãncia, esperança, triunfo, êxito, desespero, crueldade, maldade, bondade, paixão, posse, esperança, etc., em cada momento vestimos a loucura que nos habita para sermos os protagonistas desse mar de corpos ambulantes. Perambulando por bares, igrejas perdidos, no fundo dos seus quartos e sem rumo.
Fumamos um ao outro, bebemos e solvemos as nossa ideias, amarguras e liberdades.
Parecia que estávamos invertendo os nossos caminhos em busca de um sentido para a perdição do pensamento e da alma.
Quase que sucumbindo, e não raro, diante do sofrimento que tudo que carregavámos causava, nos olhamos, choramos e juramos vingança e amor a tudo e todos.
Com alma enferma, de uma verdade mentirosa, redescobrimos o caminho inúmeras vezes, somente para perder-se outra vez. E assim, caminhamos feito almas penadas por maternidades, casas, calçadas, ruas, baotes, igrejas e cemitérios.
Luíza, sempre perguntava como desenhar um protagonismo, se o que vigora nas linhas da vida, é a mentira plantada e recontada, alterada, suja da realidade do agente?
Depois dizia que o poder das palavras atravessa o tempo e cai feito bomba no cérebro do leitor. Gerando uma verdadeira triangulação de terror.
Eu dizia que tudo era uma provocação desnecessária, que sempre segue adiante, de forma catastrófica, redesenhando novos personagens. E depois de uma nova história, tudo iria findar e jamais seria retratado como de fato ocorreu. Uma relação que flutua na pervesrsão do escritor. O personagem, contador e ator principal, torna-se um nome no tempo e nada mais. O Sujeio que perambula em todos os tempos
Então, como escrever a história de alguém?
Luiza dizia que o estado bruto de alguém é onde reside toda verdade até dele próprio escondida.
Tomei mais uma dose de conhaque, fumei mais um cigarro, me despedi e fui embora para casa andando.
Quem sabe um dia, à luz da minha imaginação, acaricie a alma dos que ainda não se olharam no espelho da loucura.
Por Tatiana Sobreira
Comentários